O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal, em
Brasília, aceitou nesta quarta-feira, 26, denúncia oferecida pelo Ministério
Público Federal (MPF) contra o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), o operador do mercado
financeiro Lúcio Funaro e mais duas pessoas por esquema de desvio de recursos
na Caixa. Os envolvidos agora passam à condição de réus e responderão a ação
penal por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, prevaricação e violação de
sigilo funcional.
Cunha e os demais réus são acusados de cobrar propina de empresas para
liberar investimentos do FGTS pleiteados por elas. A denúncia foi originalmente
oferecida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo
Tribunal Federal (STF). Com a cassação, o ex-presidente da Câmara perdeu o foro
privilegiado e o caso foi enviado à Justiça de primeiro grau. Também são réus
Alexandre Margotto, apontado como parceiro de Funaro em negócios, e Fábio
Cleto, ex-vice-presidente da Caixa que fez acordo de delação premiada e
detalhou o suposto esquema de desvios.
Na decisão, o magistrado explica que a peça de acusação está “jurídica e
perfeitamente íntegra”, merecendo ser recebida, pois cumpre os requisitos do
Código do Processo Penal (CPP). Ele afirma que o MPF detalha os crimes
atribuídos a cada acusado e contextualiza as operações financeiras no exterior,
“a fim de que os valores da propina chegassem aos denunciados por meio de
mecanismos variados”.
“A presente denúncia faz referência e traz como prova a farta
documentação que relata com precisão de detalhes as operações junto à Caixa e
os dados bancários de contas no exterior, planilhas, recibos e anotações feitas
por alguns dos acusados”, escreveu o juiz. Ele registrou também que a acusação
se lastreia “em depoimentos, a título de colaboração premiada, do codenunciado
Fábio Cleto e depoimentos de outros investigados e testemunhas, tais como
Ricardo Pernambuco (também delator) e outros, que tiveram intensa atividade no
acobertamento e entrega do dinheiro indicado como ilícito a seus destinatários
aqui denunciados”.
Oliveira determinou a citação, com urgência, dos réus, para que
respondam à acusação em até dez dias, apresentando documentos e indicando
testemunhas. Ele destacou a necessidade de tramitação célere da ação, pelo fato
de haver réu preso. O juiz marcou audiência de custódia para avaliar a
pertinência de mantê-lo na Penitenciária da Papuda.
Cunha está preso em Curitiba, mas por causa de inquérito que apura seu
envolvimento em corrupção na Petrobras.